Wednesday, July 06, 2011

A ilha verde e vermelha de Timor


Um livro clássico sem igual sobre Timor é A Ilha Verde e Vermelha de Timor, escrito por Alberto Osório de Castro. Neto do antigo governador de Macau, Ten. cel. José Osório de Castro Cabral de Albuquerque, juiz de Dili (capital de Timor Português, atual Timor-Leste), Alberto Osório de Castro exerceu sua magistratura nas possessões portuguesa no início do século XX. Nascido em 1868, em Coimbra, veio falecer em Lisboa, no ano de 1946.

A Ilha Verde e Vermelha de Timor foi publicado primeiramente na revista Seara Nova, de 28 de Junho de 1928 (no. 123) a Junho 27 de 1929 (no. 167). Posteriormente, em 1943, os artigos foram publicados em forma de livro pela Agência Geral das Colónias (foto abaixo). Recentemente, em 1996, foi reeditado pela Cotovia (foto acima)

O livro trata-se de um relato das viagens do autor desde sua saída da Europa até a chegada na ilha de Timor, passando por Macau, diversos pontos da Indonésia, entre outros, e acompanhando o Governador Cap. Eduardo Marques, em 1909. O destaque deste relato de viagem escrito pelo autor, é que ele demonstra um conhecimento enciclopédico a respeito do oriente, documentando e analisando junto ao leitor a flora, fauna, a cultura e as línguas leste-timorenses. Ainda, o autor muitas vezes ornamenta sua bem elaborada prosa narrativa e descritiva com alguns de seus poemas, escritos em homenagem às belezas leste-timorenses que o autor se deparou.
 
A repercussão atual deste trabalho é imensurável. Para qualquer pesquisador das ciências humanas que se interesse por Timor, a leitura da obra é indispensável. Na internet há um interessante relato no blog Retrovisor http://retrovisor.blogs.sapo.pt/11837.html de como esta obra foi importante para os estudos de botância, no blog Lusasias há a reprodução de uma poesia intitulada Tebedai, juntamente com notas explicativas do autor Osório de Castro sobre esta dança típica da cultura leste-timorense http://lusasias.blogspot.com/2010/01/tebedai.html, ainda há a reprodução de um breve comentário de J. P. Esperança sobre a obra, em seu artigo Um brevíssimo olhar sobre a literatura de Timor, e há também no Forum Haksesuk uma breve biografia, alguns poemas e notas explicativas, escrito por Dom Ximenes Belo. Esses são apenas alguns exemplos de recursos que podem ser encontrados on-line.

Na minha última leitura da obra, destaquei alguns pontos que achei importantes, assim como separei-os por tópicos, pois achei que isto auxiliaria posteriores consultas. Segue abaixo, então, enumerado de acordo com as páginas da edição de 1996, da Cotovia, alguns comentários à obra A Ilha Verde e Vermelha de Timor:

- Na (p.24) há referência à documentação organizada por Armando Pinto Correia, autor de Gentio de Timor. Uma delas menciona o apoio de Larantuka, Ilha de Flores, à rainha de Mena, em Lifau. Outra fala da invasão dos macassares;
- Na (p.25), podem ser encontrados comentários a respeito dos relatórios sobre usos e costumes timorenses de 1926 a 1933, que nunca foram publicados  (algum leitor sabe mais informações dessa documentação, se ela está disponível... onde...);
- Na (p.40), é possível encontrar informações sobre a dança leste-timorense, a fauna e os ornamentos. Seguindo o relato sobre os costumes tradicionais, nas (p.42-43) o autor fala mais sobre a dança leste-timorense, oferecendo informações também sobre os chineses em Timor e a cobra na sociedade leste-timorense (animal que desperta medo e é símbolo de maldade, coisas ruins etc.).
- Seguindo na leitura, é possível encontrar nas (p.44-45) informações sobre cavalos na ilha, como são os diferentes tipos de corda e (p.47) casas;
- Na (p.48) há curiosas informações da presença  holandesa em Liquiçá;
- Na (p.50), o autor fala da função social dos sacrifícios;
- Nas páginas seguintes há mais informações de natureza biológica e etnográfica. Nas (p.62-63) o autor aponta para a presença de flora distinta em Mahubo, fala também da organização das comitivas reais, dos cantos, dos escudos guerreiros, de mulheres com comportamentos diferentes e dos indivíduos "andróginos", em (p.70) há informações sobre os famosos corais leste-timorenses, em  (p.72) é reproduzida uma carta que fala sobre as riquezas de Timor; 
- A (p.74) traz informações sobre os firaku, a (p.78) mais sobre os chineses, as patologias contraídas na  ilha, a fauna nativa e novamente a presença chinesa (p.85);
-Nas próximas páginas encontram-se informações de natureza linguística: (p.91-93) o autor tenta classificar os reinos e as línguas, (p.94-95) o autor fala sobre o Crioulo Português de Bidau (CPB), (p.108) há informações sobre os portugueses em Jakarta, seguido pela hipótese de vestígios de língua portuguesa na insulíndia do autor, proposto por Gonçalves Viana (p.109) e em (p.110-111) Castro fala sobre o léxico português na Ásia;
- Osório de Castro retorna a falar dos costumes nativos: (p.119) discorre sobre as pedras sagradas e a oferenda aos deuses (p.123); (p.124) destaca os timorenses de tipo físico diferente: os ruivos e os de olho claro; (p.127-131) fala da importância da coruja, da pomba, da magia, da árvore mágica, de cobras, de macacos sagrados, totemismo, os terremotos, as almas e os feiticeiros; (p.133) origem da palavra maromak, (p.134-135) sobre feiticeiros e as armas; (p.136-140) guerreiros, ritual lorsa, instrumentos musicais, guerras, tréguas, e os heróis, ou guerreiros de elite, arrancadores de cabeças; (p.141) a importância social da  colheita; (p.143-144) as cerâmicas, pratos e artesanatos nativos; mais sobre as danças e os instrumentos musicais (p.147); o comportamento do timorense frente ao luto, a morte e o enterro (p.148-151); mais sobre  as mulheres e os chineses (p.153-155).
- A seguir, o autor coloca uma série de versos em pantun em várias línguas (p.157-160);
- E continua uma narrativa de cunho etnográfico com informações sobre os ritos de passagem e casamentos (p.161), o parto e a origem da palavra ai-dila que gerou o nome da capital Dili (p.167), (p.168) ato de mascar o betel, (p.170) ornamentos masculinos, (p.171) o funcionamento do sistema penal nativo, (p.173) o fogo e a culinária e a organização política nativa (p.190) nos pequenos reinos.
- Para finalizar, o autor fala das frutas nativas (p.204) e (p.208) comenta a obra Plantas úteis da Ilha de Timor, assim como as listas de Forbes e Gomes da Silva, juntamente com os livros de Boerlage e de Lanessan.

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