Friday, October 28, 2011

Documentário de Max Stahl sobre o Massacre de Santa Cruz - 'Timor à Procura'

Santa Cruz demonstrators

(foto extraída do sítio da ETAN, mostrando os participantes da marcha pouco antes do massacre, disponível em http://www.etan.org/timor/SntaCRUZ.htm)

O incidente infeliz, conhecido como Massacre de Santa Cruz, ocorreu em 12 de novembro de 1991, em Dili, capital de Timor-Leste. O nome 'Santa Cruz' é de um cemitério em Dili, onde mais de duas mil pessoas organizaram-se em uma marcha para homenagear o jovem Sebastião Gomes, morto em outubro do mesmo ano, em 1991. Sob violenta dominação indonésia no período, os cidadãos leste-timorenses foram massacrados pelas forças invasoras indonésias, que abriram fogo, massacrando a multidão. Ainda, as forças indonésias após o massacre levaram diversos leste-timorenses feridos ou considerados por eles 'perigosos' e, assim, desapareceram com outra parte da multidão.

Esse acontecimento trágico teria caído em esquecimento e seria abafado pela Indonésia e outras agências internacionais, se não fosse a atuação do jornalista Max Stahl que no momento do massacre estava em Dili, foi capaz de filmar e mostrar ao mundo as atrocidades cometidas pelo regime indonésio. No link http://www.nancho.net/fdlap/maxstahl.html, há uma entrevista (em inglês) com Max Stahl, intitulada 20 years of Terror - Indonesia in Timor '20 anos de terror - Indonésia em Timor' (somente o título já nos diz muita coisa), falando a respeito de sua viagem à Timor, sobre a filmagem, sobre Indonésia etc. Outro link interessante é o http://www.youtube.com/watch?v=ElWMSN5hIK0 que mostra as cenas originais feitas por Max Stahl, assim como acompanha as investigações feitas em 1994.    

Segundo números do Comitê 12 de Novembro, organização que ajuda as famílias das vítimas desaparecidas, 2261 pessoas participaram na manifestação. Destas, 74 foram identificadas como tendo morrido no massacre e 127 morreram depois do massacre.

O filme, intitulado Timor à Procura, além das filmagens originais do massacre, acompanhou durante cerca de três anos equipes de antropólogos forenses e outros especialistas que procuraram vestígios e ossadas de supostas vítimas do massacre, chegando a identificar vários e devolver as ossadas às famílias. 

No próximo dia 12 de novembro decorre 20 anos do massacre e o filme será exibido em frente ao Palácio do Governo para a população. 

Mesmo depois de 20 anos muitas coisas permanecem obscuras, muitas vítimas e perguntas ainda estão a ser respondidas...

Thursday, October 27, 2011

Documentação sobre Timor-Leste

No Notícias Sapo TL saiu uma matéria, no dia 25 de Junho de 2011, que discorre a respeito da existência de uma vasta documentação sobre Timor-Leste em Portugal. A notícia, intitulada Portugal guarda mais de 5.000 documentos sobre Timor-Leste, pode ser lida no link:

O principal pólo da documentação é o Arquivo Histórico Ultramarino localizado em Lisboa, Junqueira (na zona ribeirinha), e podem ser consultadas maiores informações em http://www.iict.pt/ahu/index.html. Outro local que guarda vários documentos é o Museu Municipal, em Figueira da Foz, link: 

Apesar de ter passado os links para os sítios dos respectivos lugares, devo alertar ao leitor que não há material disponível para download. Apenas informações adicionais, já que a consulta do material deve ser supervisionada por especialistas e ocorrer somente no local, principalmente por motivos de segurança e conservação das peças.

Entre as peças, podem ser citados a existências de diversas amostras da flora leste-timorense, juntamente com documentações históricas, peças arqueológicas e itens da cultura material dos povos nativos. Vale a pena conferir, e para aqueles que estiverem próximos aos locais citados, recomento a visita e a consulta.


Saturday, October 22, 2011

Ita-nia Kultura - novo blog sobre Timor-Leste

Soube recentemente, através de uma divulgação de João Paulo Esperança, um blog novo que abordará questões de história, cultura e tradições leste-timorenses. O blog, chamado Ita-nia kultura, que está hospedado no Blogs Sapo TL,  teve seu início há pouco tempo, no mês de agosto deste ano.

Os primeiros posts que já estão disponíveis mostram fotos antigas e raras tanto de cidadãos leste-timorenses com suas vestimentas e que seguem as tradições nativas, como há fotos de coleções de selos antigos dos correios, há do período de Timor Português e até de tempos coloniais anteriores a esse período. 

Recomendo, então, aos meus leitores conferir este blogue, no link http://ita-nia_kultura.blogs.sapo.tl/, e eu mesmo aguardo ansiosamente que novas imagens e textos sejam postados. É um bom conselho, até mesmo para entrar em novos ares e descansar um pouco sobre a polêmica recente em torno de políticas linguísticas e a ameaça da língua portuguesa...


Sunday, October 16, 2011

O futuro do português em Timor-Leste - 10 Contradições no planejamento linguístico

Enquanto são discutidas questões relativas ao lobbie anglófono, claramente influenciadas por interesses financeiros, principalmente em relação à política da educação multilíngue baseada em língua materna, certas atitudes governamentais leste-timorenses são um tanto contraditórias. A seguir enumerarei somente algumas delas, que foram mais recentes.

O ministro  da educação de Timor-Leste, João Câncio de Freitas, no dia 14 de outubro, proferiu algumas falas interessantes. A primeira delas foi sobre a formação de 197 novos professores no Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais de Educação. Destes 197 professores, 127 foram de língua portuguesa, ou seja, quase 70% dos professores formados foram na área de língua portuguesa, o que mostra o interesse da população, dos professores e dos alunos com o português.

A segunda fala do ministro foi sobre a porcentagem de falantes em língua portuguesa. Segundo ele, o número de falantes de língua portuguesa em Timor-Leste cresceu para 35%.

Finalmente, a terceira fala do ministro que interessa para nós foi a respeito da capacitação de professores. Segundo João Câncio, há oito mil (8.000) professores leste-timorenses que necessitam de qualificação, e o ministro pretende que até o ano que vem, em 2012, atenda a cerca de 2000 professores, o que corresponde a 35%.

A última notícia foi a publicação do Timor-Leste Communication and Media Survey, pela INSIGHT Team, da UNMIT, que trouxe informações interessantes de uma pesquisa feita sobre as línguas, o uso e o alcance das mídias em Timor-Leste. Entre elas é possível citar que o uso do indonésio caiu (tanto nas mídias , rádio e televisão, quanto no letramento) e o uso do português aumentou na mesma proporção, tanto nas mídias quanto em relação ao letramento. Assim como, a parcela da população leste-timorense que passou a simpatizar com a língua portuguesa e preferi-la no lugar do indonésio também cresceu e, desta forma, o interesse do indonésio diminuiu. O documento pode ser baixado no link:

O que eu pude concluir, e espero também que outras pessoas possam fazer o mesmo, é que o interesse da população leste-timorense pela língua portuguesa tem crescido em áreas diversas na esfera social. Há interesse por parte de professores, alunos, estudantes universitários, a população em geral, políticos etc. Isto foi comprovado de maneira sucinta no que eu expus anteriormente neste post. 

As contradições, que fiz referência no título, basicamente são o interesse de poucos em abolir a língua portuguesa de Timor-Leste (por mais que muitos afirmam que isto não está a acontecer) através de políticas linguísticas e a implantação destas, ou seja, o planejamento linguístico. Primeiro, abole-se do ensino básico, ou seja, ninguém mais a aprende quando pequeno, e posteriormente pode-se abolir nas demais esferas sociais. Porém, as contradições são claras, já que esta não é a vontade do povo leste-timorense nem dos próprios governantes do país. Tal atitude contra a língua portuguesa está disfarçada e limitada a um número reduzido de elites estrangeiras e nativas leste-timorenses e de uns poucos governantes.


NOTA: algumas informações deste post tiveram a Agência Lusa e a Página Global como fontes de alguns dados. 


Sunday, October 09, 2011

O futuro do português em Timor-Leste - 9 A rivalidade entre os sucos


Nesta última sexta-feira, 06 de outubro, o Jornal Independente publicou uma notícia a respeito da declaração do porta-voz do Sindicato dos Professores de Timor-Leste (SPTL), Agostinho Soares, sobre a implementação do ensino em língua materna. Tive acesso à notícia no blogue Timor Hau Nian Doben pela indicação do amigo António Veríssimo, que eu registro aqui meus agradecimentos. 

Segundo, Agostinho Soares, a futura geração leste-timorense será dividida, principalmente, poderá ser retomadas antigas rivalidades entre 'sucos' (divisão político-administrativa nativa, do Tetun suku, semelhante a pequena vila ou vilarejo), o chamado 'suquismo' (Isto foi um dos meus argumentos no post O futuro do português em Timor - 5 Análise do Educação multilíngue baseada na língua materna, que pode ser lido no link:
Ainda, ele fala também da impossibilidade e da inconstitucionalidade de tal proposta (também já discutida por mim no post O futuro do português em Timor - 2 A legalidade da nova política linguística que pode ser lido no link:

Vale lembrar aos leitores do blogue também que qualquer estrangeiros que visitou Timor-Leste, e os próprios cidadãos leste-timorenses sabem disso, há línguas e grupos etnolinguísticos que já gozam de um status social superior a outros grupos, considerados menores. Como exemplo, posso mencionar o grupo manbófono, falantes da língua Manbae (ou Mambae, Mambai), que, além de serem em grande número, estão localizados na região central de Timor-Leste e possuem diversos representantes nas camadas sociais mais altas, como políticos, professores universitários, nobres etc. Outros grupos etnolinguísticos que gozam de um status social  superior aos demais são: o Makasae, que possuem certas características sociais próximas ao grupo Manbae, e os falantes de Tetun Terik, que sempre possuíram uma posição de prestígio e destaque na sociedade leste-timorense, principalmente por causa do mito de manterem a língua Tetun 'pura' (a variedade Tetun Terik).    

Após essas breves informações para se refletir, e quem sabe até mereçam uma pesquisa ou análise mais aprofundada, a notícia pode ser lida inteira no link
http://timorhauniandoben.blogspot.com/2011/10/politica-do-uso-das-linguas-maternas.html.


Saturday, October 01, 2011

O futuro do português em Timor-Leste - 8 Mais um linguista fala do assunto - Hanna Batoréo

Seguindo aqui a série de posts sobre a situação da língua portuguesa em Timor-Leste, este post falarei somente da entrevista fornecida ao jornal Hoje Macau pela Profa. Hanna Batoréo, que pode ser vista no link:

A professora apresenta seu ponto de vista teórico, predominantemente da psicolinguística. Fala, ainda, da importância do ensino do português para torná-lo mais acessível aos cidadãos leste-timorenses, e também da proposta que o aboli do ensino básico não ser de todo ruim, já que possui fundamentos psicolinguísticos e um caso semelhante foi adotado em Cabo Verde. 

Eu não estou a par da situação de Cabo Verde, por isso não posso falar muito sobre assunto, apenas devo lembrar aos leitores que há uma diferença em considerar a língua materna dos falantes para ser inserida no ensino básico quando esta é um crioulo de base lexical portuguesa. O ensino de crioulo português, L1 de uma comunidade, quando inserido como língua do ensino nas séries iniciais é uma ponte entre a variedade crioulizada e o português, que somente facilitará a passagem de uma para outra. De maneira diferente, uma língua leste-timorense nativa, de filiação genética distinta do português, não fará ligação nenhuma com a língua portuguesa, já que o máximo que pode acontecer em Timor-Leste relativo a situação de ensino de línguas na África é a influência que o português tem sobre o Tetun, mas em nenhuma outra língua nativa da região, a não ser em alguns empréstimos via Tetun. Ainda, a respeito da teoria psicolinguística, ela não é de todo unânime, já que diferentes linguistas dessa área apresentam resultados distintos de suas pesquisas em relação à aquisição e aprendizagem de línguas, envolvendo bilinguismo e multilinguismo, uns que corroboram tal política linguística e outros que não o fazem.

Todavia, o debate científico realizado por estudiosos da área somente tem a enriquecer toda a situação e a divergência de ideias é uma coisa saudável que todos ganham com isso também. Por esse motivo é que deixo aqui registrada a entrevista da linguista, que soma mais conhecimento a respeito da situação da língua portuguesa em Timor-Leste, juntamente com o texto de Nuno Almeida (disponível em:
e meu próprio 
todos disponíveis aqui no blogue.   

Segue aqui a entrevista para download, e o endereço de outro link onde ela pode ser achada, no blogue Professores de português em Timor-Leste: