Friday, November 02, 2012

'A Pretty Unfair Place' de Ken Westmoreland

O livro A Pretty Unfair Place - East Timor Ten Years After Self-Determination de Ken Westmoreland é uma leitura instigante e um tanto provocativa sobre a realidade atual de Timor-Leste. Devo confessar que não lia uma obra assim sobre Timor há tempos! Com uma tese original, que se encontra dividida pelo livro, mas perpassa toda a obra, de que as falhas presentes no novo Estado leste-timorense, constantemente apontadas por especialistas estrangeiras, são na realidade frutos de um má gestão/administração e suporte dos bens e recursos leste-timorenses, no decorrer da história desse país, por parte dos mesmos estrangeiros que os criticam, ou seja, principalmente portugueses, australianos, indonésios e funcionários da ONU (Organizações das Nações Unidas).

O autor, Ken Westmoreland, é britânico e poliglota, trabalhou em Timor-Leste durante vários anos, dedicou-se a questões de tradução nos órgãos governamentais e empresas cinematográficas. É a favor de uma política linguística multilíngue no país, enfatizando a necessidade de se elaborar diversos 'media' (livros, filmes, jornais impressos e televisivos, entre outros) nas diferentes línguas, ou com suportes multilíngues, como legendagem e traduções simultâneas. Considero esta proposta uma das mais sensatas que já encontrei por aí, que no lugar de defender ideologias subjacentes, preocupa-se mais com o falante leste-timorense.     

Dividido em dez capítulos, o livro de Westmoreland dedica os capítulos de 3 a 6 para discutir a falha da atuação estrangeira em Timor-Leste, conforme apontado anteriormente. O autor, com um estilo notável que mescla uma narrativa com toques literários, juntamente com análises pertinentes e um conjunto de citações de diferentes fontes importantes para um melhor entendimento da história leste-timorense, apresenta no capítulo 3, Indonesia: A Squandered Opportunity, a ineficácia econômica, atualmente reconhecida por autoridades indonésias, da dominação leste-timorense em 1975, já que Timor-Leste como uma nação pequena e com recursos limitados necessita de uma relação próxima com seus vizinhos, o que faria (e faz) a Indonésia ser a primeira opção em assuntos de relações internacionais; no capítulo 4, Australia: As Ye Sow, So Shall Ye Reap, é discutida a aproximação da Austrália à Indonésia e o apoio que muitos jornalistas e intelectuais daquela deram a esta em relação à discussão da dominação leste-timorense; no capítulo 5, Portugal: Emotion is Not Enough, o autor enumera uma série de características culturais portuguesas que faz com que esse país e seu povo seja diferente do resto da Europa, isso também se refletiu na própria colonização portuguesa, que apresentou traços assimilacionistas (os portugueses não viam problema em se relacionar com os povos colonizados), bem diferente das demais colonizações, como a inglesa e a holandesa, porém o autor destaca também a negociação feita entre governantes portugueses e indonésios, em 1974, que, de certa forma, negociaram um futuro 'negro' para Timor com o auxílio da ONU e sem a presença de lideranças timorenses; no capítulo 6, The UN: What 'International Community'?, são enumerados uma série de fatores que contribuíram para um fracasso do sistema da UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor) como: uma equipe formada por profissionais de 113 países diferentes; profissionais completamente despreparados sem conhecimento da história, cultura, línguas e realidade de Timor; questões políticas da ONU que acabam por deixar Portugal e/ou a língua portuguesa fora de sua esfera de importância. 

Ainda, no capítulo 7, Speaking in Tongues, o autor entra na questão complicada sobre a situação linguística de Timor-Leste. Basicamente, Westmoreland enfatiza a importância das sociedades multilíngues, que são regra no mundo todo, porém estas sociedades são vistas como exceção, ou até 'aberrações', de acordo com o modelo monolíngue típico de alguns países ocidentais. Assim, o cidadão leste-timorense é multilíngue naturalmente ao aprender sua língua regional, juntamente com a língua Tétum, e também muitos aprendem outra língua regional e as línguas internacionais, como Indonésio, Português e Inglês, sendo importante citar aqui as línguas de imigrantes que algumas vezes são aprendidas por timorenses, como o chinês, o hindi e o vietnamita. Desta maneira, Ken ressalta a ineficácia de especialistas estrangeiros chegarem em Timor-Leste e imporem suas vontades sobre os cidadãos do país, decidindo quais línguas eles devem falar ou não, e em quais situações.

A conclusão do autor, no entanto, não chega a ser pessimista, já que, na história de um país, dez anos não representam quase nada dentro de um processo histórico, o que se faz necessário apenas é a modificação das posturas perniciosas à nação recém independente.

A Pretty Unfair Place - East Timor Ten Years After Self-Determination pode ser acessado e lido em http://pt.scribd.com/doc/22975212/A-Pretty-Unfair-Place. Nos seguintes links, o autor disponibilizou um material multilíngue de sua autoria, um jornal impresso (http://issuu.com/kenwestmoreland/docs/oexpresso), e um vídeo sobre cognatos e falso cognatos que podem auxiliar a entender um pouco a questão linguística em Timor-Leste: http://blip.tv/liafuan/cognates-calques-and-false-friends-2106474. Segue um último vídeo onde o autor fala da importância da legendagem:   


      

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